Mensagem de Monteiro Lobato

Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CAPÍTULO SEIS

- Eu nasci numa família muito rica. Meu pai era dono de muitas empresas gigantescas, deve estar mais rico hoje. Conheceu minha mãe quando ela trabalhava de faxineira na sua casa. Casaram-se e com algum tempo eu vim ao mundo. Cresci no meio de brigas entre os dois. Ele sempre foi muito ligado ao dinheiro, e o dinheiro era muitíssimo mais importante que eu ou minha mãe. Tive tudo o que o dinheiro podia comprar, estudei nas melhores escolas, e sempre fui uma boa aluna. Mas aquilo... Aquilo tudo que o dinheiro me deu, não preencheu nada emocionalmente dentro de mim. Era sempre triste, solitária... Existia um vazio dentro de mim. O amor que eu recebia do meu pai eram presentes, jóias, roupas caríssimas, carros que nunca pude dirigir porque era muito nova. Quando eu completei dez anos, minha mãe engravidou novamente. Meu irmão nasceu. Ele é lindo! Morro de saudades dele. Minha mãe é completamente diferente do nosso pai. Ela sempre nos deu um amor incondicional e nos guiou. Instruiu-nos para a vida e mostrou que não
dependêssemos de ninguém para nada. Mostrou-me o vasto mundo da filosofia, pelo qual devo muito e tenho muito amor. Até que um dia, comecei a ficar mais esperta e investigativa. Percebi que minha mãe não estava infeliz, e quando os ouvia por trás das portas discutindo, falavam de um segredo do pai, algo que a mãe repudiava. Perguntei inúmeras vezes o que era, mas nunca me informou. Até que um dia descobri, mexendo nas coisas do pai. Bem... – uma lágrima começou a se intrometer em seus olhos, e criaram volume até se transformarem em mais do que uma gota, ah, seus olhos não tinham tamanho para segurá-las, e escorreram pela bochecha.
    - Pode confiar em mim, não tenho ninguém para contar. Estou sozinho no mundo. – abraçou a enfermeira num consolo que nunca deu a ninguém. -  Ele não nasceu no Brasil. Veio de Portugal, de uma família brasileira. Não tinha sotaque português. Lá, ele... Ele, quando atingiu a maioridade matou uma família inteira, conseguiu roubar milhões de dólares. Até hoje não sei como conseguiu e muito menos com a idade que tinha. Pegou o dinheiro, e fugiu para o Brasil. Até hoje o procuram, não sei como nunca descobriram. Com isso... Obviamente não consegui mais olhar para ele. Eu tinha dezesseis anos. Saí de casa, era véspera de natal, e havia me formado poucos dias atrás. Ele me deixou sem nada, nem um centavo no bolso, tudo o que eu tinha deixei em casa, além da roupa do corpo. Consegui um emprego facilmente sendo filha de quem sou; não tinha dinheiro, então me inscrevi para uma universidade federal. Consegui estudar, com muita dificuldade, porque trabalhava para pagar meu aluguel e mal sobrava para comida. Passei fome muitas vezes. Já fiquei seis dias sem dormir para dar conta do recado. Mas consegui. Formei-me em enfermagem e estou aqui, conversando contigo. Deixei aquela maldita mansão da praça! Sabe qual é né? Minha mãe logo não agüentou as pontas e saiu de casa, e teve o mesmo destino que eu. Continuou com as faxinas e conseguiu levantar. Eu já tinha me formado e a ajudei a segurar a barra. Montamos uma lojinha de roupas e moramos juntos. Queremos tirar Eduardo de lá. Coitado... Ele o mantém como um prisioneiro. Também faz enfermagem. Às vezes faz estágios, e há poucos dias fez nesse hospital. Queria te mostrar como ele é lindo. Por dentro, e por fora... Essa é a minha história... Nunca tinha contado pra ninguém... Se isso sair daqui, pode prejudicar a saída do Eduardo de casa, portanto estou confiando em você. – Levantou-se da cama, enxugou seu olhos, e deu um abraço em Marcos. – Agora, cumpra com o que combinamos. Contei minha história, e você vai erguer a sua.
- Eu não sei o que dizer! Você foi sensacional! Ouvir histórias assim; faz pensar que não somos os únicos que sofrem com as injustiças. Sinto-me melhor.
- Você me encantou garoto. Não sei o que você tem, mas parece sincero e confiável. Talvez sejam seus olhos... Tenho que ir. Se cuide!

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