Mensagem de Monteiro Lobato

Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CAPÍTULO OITO

    Marcos ficou realmente espantado com a clareza com que viu o seu cotidiano. E resolveu libertar seu filósofo. Em dois dias teve alta, e foi direto para a casa de Lúcia e sua mãe Martha. Era uma mulher encantadora, a Martha. Usava um vestido florido, seus cabelos lisos castanhos escuros com seus grisalhos perdidos acabavam alguns centímetros antes do ombro.  Nossa história não se foca na pequena lojinha de roupas na capital paulista, a Beco da paz. Seu nome era um pouco engraçado, mas motivador. Sua estadia foi muito tranqüila, o trabalho ali foi gostoso. Passou noites em claro lendo os livros que Lúcia havia indicado.
Foi transformador para Marcos. Em breve, iria estudar Filosofia em uma das universidades mais bem quistas de São Paulo.  Até que chegou um dia que resolveu voltar à praça. Aquela praça, onde seus dias eram de um marrom escuro líquido.
    O banco que dormiu por algumas noites árduas, estava li, intacto, sem contar as novas grafias que marcavam os nomes dos que passavam e queria deixar sua marca. Os que quando escreviam pensavam que quem lesse seu nome ali, acharia belo, e que o tempo preservaria. Que se tornaria imortal de alguma forma. Mas quem para pra ler, só significam mais borrões do vandalismo e falta de cultura. Nada mais que uma experiência humana equiparável ao xixi do cachorro nos postes para demarcar território.
    Marcos sentou ali. Suas vestes agora eram completamente diferentes. Sua expressão de adolescente foi substituída pela de um rapaz de vinte e dois anos, cheio de vida e pensamentos. Começou a lembrar dos anos que passaram, de como a vida mudou. Dos seus passos apressados e sôfregos, cambaleando de casa até aquele mesmo banco, quando seu pai o expulsou de casa. Das lojas que o expulsaram. Algumas hoje não são mais as mesmas, mas percebia-se que a maioria havia se preservado. Algumas cresceram e tiveram filiais. Outras substituíram o ponto por outra, pois não agüentaram a pressão capitalista. Lembrou de as árvores terem lhe dado abrigo, de os pássaros terem lhe oferecido canções, lembrou de... de... de um menino prostrado na janela da mansão. De um menino.... Um menino loiro que o olhava chorar na janela de seu quarto... O menino do sonho! Era ele o menino que o buscava no quarto de hospitais nos seus sonhos! Aquele menino satisfazia todas as definições de Luiza como sendo o irmão dela! Cabelos loiros aparados antes que chegassem às sobrancelhas... Pela branca e macia... Cabelos loiros... Magro... Era ele! O garoto que sonhou no leito de hospital e não parou de invadir seus sonhos na nova residência, que se instalou no seu inconsciente e não queria sair.
    Marcos revirou na sua cabeça uma explicação para não ter se esquecido da figura do rapaz. Usou de suas filosofias e psicanálises para compreender aquilo. E de repente, uma fagulha se transformou em um fogaréu, um neurônio juntou todos os outros e num frenesi se disse apaixonado pelo garoto.

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