Mensagem de Monteiro Lobato

Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CAPÍTLO NOVE

    Aquilo era muito novo, mas ao mesmo tempo velho. Ruminado por anos a fio no inconsciente. Traçou um plano. Arriscado por sinal.
    Esperou anoitecer. Uma, duas, três, quatro horas se passaram, até que o sol fosse totalmente embora, e fossem acrescentadas algumas horas extras para segurança do plano.
   
Contemplou aquele edifício magnífico, como de palácios antigos. Os guardas que vigiavam o lugar estavam todos na porta. Ninguém ao redor. Uma árvore de uns cinco metros, três pessoas de braços dados para completar sua circunferência. Não havia vento, não haviam estrelas ou lua. Não havia pensamentos em sua mente. O que havia, era o seu inconsciente buscando algo, por conta própria, sem que possamos realmente tomar controle da situação, como num sonho. Chegou a dois passos da árvore, que tinha seu cume ao lado da janela que, nos velhos tempos de sua memória, ficava o quarto do menino. Um casal de velhos mendigos se aquecendo com cachaça a uns oito metros pra esquerda; não iriam lhe dedurar.. Atrás a parede do edifício. À frente a árvore. À direita ninguém. Deu início à sua escalada, não sem antes pedir permissão à árvore para escalar. Havia musgo, tornando-a escorregadia. Os primeiros dois metros vieram sem muita dificuldade. Agora não havia muito em que se apoiar. Encontrou um galho sobre sua cabeça, o qual usou para subir mais um pouco. E mais um. E outro. Este; ameaçou quebrar-se, e buscou instantaneamente outro para se apoiar, e em seguida o antigo caiu, e foi ao chão produzindo um estrondo seco e saltitante. Agora tinha que ser ágil, ou alguém poderia ouvir seus ruídos. Mas não existiam mais galhos para lhe servirem de apoio pelos próximos quarenta centímetros, onde atingiria a coroa da árvore. Onde estava, o tronco havia crescido diagonalmente, e o espaço entre a árvore e a parede era não mais que sessenta centímetros. Apoiou suas costas no tronco, seus pés na parede, e continuou subindo. Quase desequilibrou, mas prosseguiu, e atingiu a coroa. A janela estava aberta, o menino na cama, dormindo.
    Marcos pulou imediatamente a janela, entrou silenciosamente no quarto do menino. Trancou a porta, que tinha a chave na fechadura. Tirou os sapatos. Suas meias brancas pisaram no tapete como que houvesse um salto alto invisível em seus pés, para não fazer ruídos. Seus joelhos encostaram-se à beirada da cama, tomou um leve impulso e subiu. O quarto estava numa penumbra viciante. O aposento era gigantesco. À três metros da cama havia uma lareira, cuspindo um fogo raso, que iluminava somente sete palmos a sua frente. Havia uma estante cheia de livros, deveria haver mais de mil volumes ali. Do outro lado do quarto, havia uma escrivaninha, vários livros sobrepostos e alguns abertos. Uma televisão desligada. Um notebook fechado. A cama era grande o suficiente para quatro pessoas deitarem de braços abertos. Marcos subiu sorrateiramente a cama, numa lentidão sensual, seu coração estava pulando pela boca, seu estômago revirava como uma máquina de lavar roupa com uma azia espantosa. Seus lábios tocaram suavemente os do menino. Eduardo abriu os olhos.

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