Mensagem de Monteiro Lobato

Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CAPITULO FINAL

    Alguém tentou abrir a porta, que não se completou por uma língua de ferro que a trava. Sua língua foi apressadamente cuspida da fechadura da porta, até se encontrar com o batente de madeira, que a segurou. Um menino fez isso. Um menino que foi expulso da casa dos pais por preconceito, um menino que amou outro, incondicionalmente, sem trocar palavra alguma. Que teve que fazer coisas horríveis para sobreviver. Que foi acolhido foi alguém que nunca havia visto na vida. E mudou sua história. Esse menino, hoje, fez sua maior aventura. Mas havia provocado um peixe grande naquela mansão.

   -Abre essa porta Eduardo! Agora!
    - O que vamos fazer? Poe sua roupa! – Sussurrou Eduardo para Marcos.
    Encontraram suas roupas encharcadas no chão, perto da cama. A bagunça aquática que fizeram no banheiro fez o quarto inundar. Não era possível reparar tudo em uma fração de segundos.
    - Abre ou eu vou arrombar! – A maçaneta girava compulsivamente e no mesmo passo que os “toc-tocs” na porta.
    - Fogue pela janela! Rápido Marcos!
    - Não posso te deixar. Não posso te deixar responsável por tudo isso. Ele deve ter ouvido vozes de duas pessoas... Fizemos muito barulho.
    - Meu pai te colocaria preso se te visse aqui!
    - Que seja esse meu destino! Não te abandonarei!
    -Coloque uma cueca ao menos, infame!
    - UUM! DOOOOIS! TRÊS! – Paft!
    A cena que se procedeu foi trágica. Eu poderia te poupar disso, mas, se chegou até aqui, caro leitor. Talvez mereça saber o final dessa história de amor... Deseja?

    A porta se abriu, e um vulto gigantesco se via na soleira. Vermelho de raiva. Urrando de ódio por ser contradito.
    - O que houve aqui?
    Uma coragem invadiu Eduardo, e ergueu a voz para seu pai, pela primeira vez.
    - Ele é meu namorado!
    - Está maluco? – O pai de Eduardo avançou os dois metros que os separavam em um segundo. E lhe aplicou um soco no rosto, que o fez tombar.
    - Não ouse fazer isso! – Marcos saiu da escuridão, e avançou contra o gigante de ferro. Antes que pudesse chegar mais perto, foi jogado ao chão.
    Eduardo já tinha se levantado. Pegou Marcos pelo braço e o fez correr consigo. Tinham essa vantagem sobre a soberba força tirana do homem. Percorreram a casa como um raio. Marcos pode ver só de relance as obras primas, esculturas, quadros, tapetes, lareiras, sofás e demais artigos de luxo. Desceram seis lances de escadas. Tropeçaram em um tapete na metade do percurso, mas levantaram-se novamente. Chegaram na recepção. O humor e a tragédia andam sempre juntos. Estavam de roupas íntimas ao atravessarem o enorme salão receptivo. Obviamente não pensaram na segurança. Foram barrados na saída. Até o pai de Eduardo chegar.
    - Está maluco idiota? – Deu-lhe mais uma bofetada na cara.  – Vou mandar prender esse vândalozinho, e você vai aprender a lição. Vamos. – Pegou no ombro de Eduardo.
    -Não! –Eduardo esquivou-se e tirou a mão de seu pai do seu ombro. – Eu não preciso mais conviver com um monstro como você! Já bastou toda nossa família destruída. Somos antípodas um ao outro, idiota! Estou caindo fora! Nunca mais olhe para mim!
    Saíram correndo antes que houvesse alguma resposta. Os seguranças tinham lhes soltado quando o homem socou o filho na portaria. Aproveitaram isso e correram. Correram muito, até o fôlego agüentar.
    Chegaram em um lugar completamente isolado. Havia grama. Era alto. Havia uma estrada, e do outro lado, um punhadinho de grama verde, nada mais que trinta metros quadrados. Um possível acostamento. Parecia um mirante. O sol estava indo. Era o crepúsculo de uma nova fase, de uma vida para ser vivida. Abraçaram-se, e Marcos quebrou o silêncio.
    -Sabe... Eu também tenho uma coisa pra te contar...
    - O que?- O sorriso de Eduardo era de tranqüilidade. De satisfação.
    - Conheço um lugar onde acolhem os oprimidos... E lá tem duas pessoas que você gostaria de conhecer.
    Marcos pegou em sua mão, e desceram o morro altíssimo que dava para ver uma boa parte da cidade metropolitana. E caminharam, tranquilamente, em busca de um novo destino... Juntos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário