Mensagem de Monteiro Lobato

Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quinze Minutos

Pedro estava passeando pela praça nos seus quinze minutos de folga. Trajava um terno completo, devia estar com muito calor. Mas hoje não seria um dia comum, percebeu um mendigo, maltrapilho e fétido, seus cabelos brancos, compridos, estavam imundos; mas o que chamou a atenção de Pedro é que o senhor estava conversando com uma flor. Curioso, chegou mais perto para ouvir.

- Obrigado minha bela flor, por acordar todos os dias e dar o seu máximo para que eu apenas desfrute da sua beleza e me encante com seu cheiro. – De repente, saiu às pressas, e quando parou, estava abraçado a uma árvore. – Você era tão pequenina, e pacientemente esperou que a chuva caísse, e vigorosamente cresceu; obrigado por tão aconchegantes sombras me proporciona. Estarrecido, Pedro, que o estava seguindo, indagou. – Você é louco?
- Louco, meu caro prisioneiro? – O velho maltrapilho o olhou com uma expressão severa. – Muitos dos que aqui vivem podem assim ser chamados, mas eu não. Eu sou livre. Posso te convencer de que você é o louco. Vamos brincar? Se eu te convencer, você vai subir neste banco e gritar uma homenagem á natureza,
- Prisioneiro? Você está precisando é ser internado! – Pedro estava achando até certa graça naquilo, mas curioso como tal, resolveu brincar. – Está bem, convença-me!
- Meu caro jovem, você está preso ao sistema! Você pensa que é livre. Você tem os pés livres para caminhar e a boca livre para falar. Mas é livre para pensar?
- Creio que sim. – Já estava com os braços cruzados, rindo disso.
- Então me responda com sinceridade: Você sofre pelo futuro, se atormenta por coisas que não aconteceram? Sofre por críticas? Preocupa-se com o que os outros pensam?
- Sim; creio que não sou tão livre assim. – Refletiu.
- Loucos; loucos são os que se aprisionam pelas indústrias que fabricam seres tão iguais e egoístas. Olhe para você! Deve trabalhar mais do que reflete sobre a vida, deve querer chamar seu chefe de bobo e que se demitirá; bobo é você que há tanto tempo planeja isso!
- Você não pode ser um mendigo! – Pedro ficou estarrecido com a sabedoria do homem.
- O ser humano é o mais desprezível animal. Com sua arrogância, destrói os outros e com sua prepotência se acha digno para tal! Criaram vacinas, a própria medicina para viver mais, dominar mais; destroem seu lar pela evolução! São gênios em inteligência, mas garotinhos em sabedoria.
Pedro ficou convencido da insanidade humana, subiu no banco e começou– Me desculpe natureza, por tanta crueldade contigo, por te desprezar por tanto tempo.– Já começou a chegar pessoas para ver um homem de terno se passando por louco.– A cada dia que passa sua pulsação se enfraquece, os responsáveis somos nós...– E continuou seu discurso até o horário da sua folga. Sua consciência mudou eternamente.

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