Mensagem de Monteiro Lobato

Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Devaneios depois do camarão

     Ouvi um comentário esses dias de que o amor é pura química. Só hormônios e conexões malucas do nosso organismo, tudo hermeticamente ajustado. E que isso é apenas mais uma programação do nosso cérebro. E nisso devaneamos e nos divertimos, choramos, vamos ao paraíso, escrevemos poemas, declarações e fazemos maluquices. Fui atrás de algum artigo sobre isso. O encontrei. Não quis ler até o ultimo parágrafo, aquilo me doeu, e como um crente em Deus que se vê diante de uma pergunta que não pode responder, eu rejeitei explicações científicas. Não, não quero imaginar o amor como algo assim, seco e brutalmente calculado. E com essa minha reação, comecei a compreender algumas atitudes de meu avô, de pessoas que não acreditavam em nada divino e que hoje crêem... De pessoas que mentem pra si mesmas e afastam uma verdade que pode lhe proporcionar crescimento. Lembrei-me de prostitutas que hoje estão na igreja, de traficantes que vão fazer suas entregas com a bíblia no braço... Negamo-nos a ver uma “verdade”... Querendo ser iludidos. E muitos acreditam nas suas mentiras e nas que lhes embutem, e afagam a alma com cortejo.  
     Isto se encaixa em muitos dos meus relacionamentos, onde a cordialidade existe... No poder de apenas um. Quando sou gentil, amável, romântico e faço loucuras por alguém... Essa pessoa simplesmente me faz de gato e sapato, fica comigo por um tempo que lhe seja agradável ou até que eu descubra alguma mentira. Mas quando eu sou ignorante, animal e idiota, infiel e mentiroso. Daí me ama, faz juras de amor e diz que sou a pessoa certa. Será que estamos todos fadados a esse amor juvenil hipócrita? Não queremos aquele cigarro que podemos fumar na frente de nossas mães, queremos aquele proibido na janela do quarto, ou o do passado, nas ruas escondidas. Os uísques acabam não tendo valor tão grande quando lhe é dado por seu pai. Isso é a juventude, imatura.
      
            Não gostamos das respostas e do trabalho concluído. Gostamos da duvida, da incerteza, e do trabalho em andamento. Isso é a humanidade. Quando estamos lendo um livro, viajamos, nos divertimos, fantasiamos nossas vidas, mas assim que se encerra, fechamos o livro e buscamos outro (com exceções daqueles que pensam mais alguns minutos na historia, ou os fanáticos em algum livro ou coleção que os relembram a todo instante). Posso usar a felicidade como exemplo. Ela não é estática, assim como o furacão de uma verdade irrefutável, que deixa sem apoio algum, jogado num mar sem cabelo para apoiar-se. A felicidade é a busca dela, por isso não a encontramos. Pois estamos sendo felizes enquanto buscamos a felicidade.
            Sou hipócrita se usasse uma camiseta dizendo “sou vegetariano”. Tenho crises. Hoje, fui comer camarão e não consegui direito. Aquelas seis patinhas que se moviam enquanto eu o tocava, quase me fez chorar. Não era uma vida, como a do boi. Eram dezenas de seres na mesa, mortos. Quando vou a um açougue, quase choro. Eu imagino minha mãe no lugar das carnes, e porcos e bois pedindo sua mão, sua coxa passada duas vezes na máquina para ficar mais macia! Sou tão hipócrita! Pois todos os dias na mesa como animais indefesos, que nascem na mão de pessoas como nós, prepotentes, gananciosas. Os matam brutalmente. E nós nos alimentamos. Sim, temos pena e os que tem coragem de assumir confessam que até choram. Já chorei enquanto comprava carne no açougue. O que me irrita, é que tenho que fazer um esforço à mesa para lembrar, que aquele bife ou aquela carne do molho, foi tão viva quanto minha mãe, tão viva quanto eu, minha família e meus amigos. Mas ela teve uma vida terrível. Num cubículo, engordando, esperando sua morte.  E eu tenho que fazer esforço para lembrar, que ela foi viva! Agora, o camarão, que estou vendo inteiro ali, tenho pena. Essa indústria capitalista me engoliu sem que eu percebesse, e estou tão entulhado nisso quanto todos vocês que estão lendo esse texto. Pois pagaram o preço que a operadora lhes ofereceu para acessar a internet. E esse internet, o que já não destruiu pra chegar até onde chegou? Ou aqueles “merchan” pra boi dormir: esta industria planta uma árvore para cada produto comprado. Ora, que meigo! Realmente, plantam. Agora meus amigos, vamos pesquisar quantas serrarias estão sob seu comando desmatando ilegalmente nosso destino? Vamos, vamos, pesquisem!
            Sou o único que não quer ser iludido mas gosta disso, ou um dos poucos que admitiu? Pois é, estou buscando mudanças interiores. Ou será que a humanidade realmente é assim? Será que toda essa coisa de que somos bons é propaganda? Você é bom?
            E se alguém te oferecesse um milhão de dólares para me prender... Recusaria? Recusaria podendo dar uma vida confortável para si e sua família?
            ... É ai que me refiro, onde somos todos capitalistas, querendo não ser.
            Quero um governo diferente de toda essa merda!
            Queria que o homem não pensasse tanto em si, mas no conjunto...
            Que um líder não tivesse que dissimular suas dúvidas e medos diante do povo;
            Queria que gostássemos de verdade do que dizemos gostar;
            Que as máscaras não fossem necessárias;
            Que acreditássemos na equidade;
            Que diferenças étnicas, éticas e sociais não fossem importantes;
            Que não tivéssemos que dissimular que convivemos com tudo isso, e bem.
            E queria que fossemos mais humildes,
            Humildes a ponto de reconhecer pontos horríveis dentro de nós, admitirmos-los e depois, só depois crescer. E continuar a reconhecer... E assim ser o ciclo evolutivo. Não evoluindo como dizem que estamos, pois parece que a cada dia nascemos, nascemos de um ovo, e de lá sai uma semente ingênua. Contaminamos-nos com ela, a admiramos nos primeiros trinta segundos de vida, depois ela se contamina com tudo isso. Os que tentam ficar imunes, ou são mortos pela pressão, ou são chamados de loucos, e mudam o mundo.
           

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